terça-feira, 24 de novembro de 2015

TERÇAS INVERTIDAS #11: LUÍZA (2)

Se eu chamar seu nome, não diga que não vai ouvir. Se o vermelho nos seus lábios refletissem a pontualidade inglesa, veria que já está atrasada. Que essa escala já virou conexão, de aeroportos distintos, que não mais cruzam os nossos destinos. Se o sorriso no meu rosto estampasse a minha verdadeira lástima, não precisaria de lágrimas pra notar. Porque eu estou perdido, indeciso, inseguro e vendido. Vendido a qualquer dose de vida falsa que alguém esteja disposto a me dar. Como se fosse suprir o vazio que você deixou. O lugar que não encontro alguém a altura para ocupar. Porque o seu descaso me matava, mas era aos poucos. Agora sem ele eu estou morto. Me trate mal, mas me deixe viver. Eu sinto falta das suas mãos, do jeito certo de segurá-las. Eu sinto falta do seu abraço, que me conforta. Eu sinto falta do seus olhos, que foram os únicos que refletiram minha vida. Antes desta se acabar. Será que só eu vejo que estou sem caminho? Será que minhas falhas são irreversíveis? Será que meu orgulho vai falar mais alto e continuar me impedindo de revelar? Me leve, luz minha. Porque o fim do túnel está muito longe do fundo do poço que me encontro agora. E olha que seria bem mais agradável me ver morto também fisicamente. Porque internamente ninguém vê o vazio que ficou. Estou imóvel, estou inócuo, estou frio, estou fazendo peso. E que peso carrego! O peso da estupidez de um ser morto. O peso do erro que parece não ter solução. O peso do erro que foi te perder, luz minha. Pois esse abraço tímido, cabisbaixo, sem jeito é o reflexo de alguém que não sabe viver. Não nessas condições. Que escreve de madrugada pra esvaziar a mente e ver se perde a insônia que os meus erros causam. Devolva-me a vida, Luíza!

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

SEGUNDA DA DEPRESSÃO #5: POEMA PARA PAULO

Liberte essas lágrimas
Relembre o passado e deixe-as fluir
Porque nós não somos máquinas, Paulo
Nós somos carne cortada com navalha

E isso dói, é a intenção:
Acumular cicatrizes
E continuar afiando a ponta da adaga

Cravá-la cada vez mais fundo em nosso peito
De forma que nos deixe assim, sem jeito
E estampando um sorriso falso de sempre
Simulando uma felicidade momentânea

Mas a gente sabe, Paulo
Que no dia seguinte a tristeza vai bater
Porque ela sempre volta à porta
E bate mais forte, com a vontade de te ter

Mas seja ousado, meu jovem
Olhe nos olhos dela e dê bom dia!
Porque todo dia novo é motivo de alegria


O que são lágrimas, além de velhos sentimentos te implorando pra sair?

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

QUINTA DO DESABAFO #3: PARIS

Eu sonhei
Mas acordo e não consigo crer
Mundo de direito, sem dever

Não deu
No breu, como acreditar?
Espero que uma luz se acenda
E eu possa então começar

Começar a envelhecer
Sem motivos pra me preocupar
Com todos que vão falecer
Com todos que vão degolar

E como acreditar em Deus,
Se a desgraça não vai acabar?
Todos aqui buscam o poder
Todos aqui vão se desmanchar

Eu tentei
Eu tentei conseguir viver
Mas como me despreocupar?

O homem
O homem não sabe viver
Vivendo só pra enganar
E ainda tentam me evangelizar

Às vezes nem quero viver:
Sem motivos pra me preocupar
Com todos que vão falecer,
Com todos que vão degolar

E como acreditar em Deus?
Se a desgraça não vai acabar
Todos aqui buscam o poder
Todos aqui vão se desmanchar

terça-feira, 17 de novembro de 2015

TERÇAS INVERTIDAS #10: FRÍVOLO

Tirei um tempo pra escrever em vão
Pra não ficar desacostumado
Pra me sentir um pouco são
Pra não me deixar de lado
Pra ver se encontro uma direção
E, ainda que não,
Quero ter tentado
Antes de voltar pro frio do chão

Eu sei que voltarei
Não preciso de crenças pra me proteger
Me sinto mais puro assim
Do nada eu nasci e nada vou voltar a ser

E é essa pureza que quero viver
É a natureza, não me causa dor
É tudo que eu quero ter

terça-feira, 10 de novembro de 2015

TERÇAS INVERTIDAS #9: DES-CASO

Os olhos já não piscam mais.
Sentado e delirando, fixo o olhar.
Ao fundo imagens repetidas.
As luzes da cidade se acendem,
O sol se esconde pelo horizonte
E novamente pouco se importam.

Um tanto mais tarde, fixo-me em paz.
A luz queima, de fora a lua a brilhar.
Na cama, estados repetidos.
A cabeça e o coração não se entendem,
Tristeza e saudade em monte.